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Cyndi Lauper e Lauren Laverne no estúdio do Desert Island Discs |
Ela já vendeu mais de 50 milhões de discos e ganhou dois prêmios Grammy, um Emmy e um Tony. No Desert Island Discs, ela conversa com Lauren Laverne sobre sua vida extraordinária e as músicas que mais significam para ela.
Aqui estão oito coisas que aprendemos…
Escute aqui o Programa com a cantora
1. Ela guarda boas lembranças de ouvir músicas emocionantes com sua mãe
Cyndi Lauper nasceu no Brooklyn, Nova York, em 1953. Para sua primeira escolha musical, ela seleciona Prélude à l'après-midi d'un faune, de Claude Debussy, por causa das memórias especiais. “A primeira música de que me lembro era a que minha mãe tocava para nós”, diz ela. “Ela adorava música clássica.”
Cyndi acredita que foi ouvindo Debussy que começou a entender o poder da música. “Lembro de ouvir e a melodia era tão linda. Eu até perguntei pra minha mãe: ‘Às vezes, quando você ouve essas coisas, é tão bonito que dá vontade de chorar?’ Ela disse: ‘Sim, é isso que a música pode fazer.’ Ela sempre compartilhava isso com a gente, e essa é uma das primeiras lembranças que tenho.”
2. Ela foi incentivada a ser criativa e expressiva desde pequena
“Eu era uma criança muito, muito esquisita”, diz Cyndi. “De todas as formas. Minha ideia de brincar era ouvir os discos da minha mãe. Eram musicais, com várias vozes diferentes… Eu ouvia e imitava. Depois ouvia de novo e imitava de novo. Era assim que eu passava o tempo.”
Sua excentricidade era incentivada. Ela diz que herdou o amor pela criatividade de ambos os pais. “Meu pai também adorava livros e sempre tinha instrumentos espalhados. Ele queria tocar xilofone, então tinha um na varanda.” Até nas tarefas domésticas havia espaço para se expressar. “A gente tinha que fazer os afazeres, separar as roupas… Mas estávamos todos juntos, e minha mãe colocava música para tocarmos e dançarmos loucamente. Lembro de como eu dançava intensamente.”
3. Mas sua infância teve desafios
A infância de Cyndi nem sempre foi feliz. Os pais dela tinham um casamento muito conturbado. “Eles brigavam muito”, conta. Uma noite, a situação piorou. “[Minha mãe] jogava pratos na parede. Eu estava assistindo, e acho que um caco entrou na minha cabeça. Me levaram correndo para o hospital. Fiquei com uma cicatriz. Eles perceberam que não dava mais para ficarem juntos. Não era seguro.”
A mãe dela se casou novamente, mas foi outro relacionamento difícil. “Queríamos que ela fosse feliz, mas infelizmente… [o novo marido] tinha um ótimo senso de humor, mas também era muito perturbado. Era como viver com o Don Rickles e o Freddy Krueger ao mesmo tempo.” Cyndi foi enviada para a escola, para sua proteção, e depois foi morar com a irmã mais velha.
4. Ela perdeu a voz por um ano
Cyndi começou a escrever músicas aos 10 anos e formou sua primeira banda, com a irmã, mais ou menos nessa idade. Na casa dos 20 anos, passou a levar a música mais a sério e entrou na banda Blue Angel. Sua carreira quase acabou antes de começar, quando perdeu a voz por um ano.
“Eu cantava e eles colocavam amplificadores Marshall de 200 watts bem do meu lado”, diz. “E o cara do prato batia do meu lado também.” Ela tentava cantar acima de todo aquele barulho, o que causou lesão nas cordas vocais. “Lembro que uma vez pedi para um dos guitarristas abaixar o volume. Ele me ignorou e continuei cantando acima dele. Estava tocando cowbell com uma baqueta quebrada, então enfiei a baqueta nele e ele ficou bravo. Parou de tocar e eu disse: ‘Obrigada.’”
5. O trabalho de sua mãe e avó como costureiras inspirou um de seus maiores sucessos
Girls Just Want to Have Fun, seu primeiro single, ainda é sua canção mais icônica – mas originalmente era bem diferente. Escrita por Robert Hazard, era sobre um filho conversando com o pai sobre mulheres. “Papai querido – wink wink – somos os sortudos, porque as garotas querem se divertir com a gente”, ela conta. “Não fazia sentido uma mulher cantar isso.”
Ela reescreveu a letra e a tratou como tratava suas roupas únicas. “Minha avó e minha mãe eram costureiras”, diz. “Pegavam roupas usadas, desmontavam, remontavam em você e ficava perfeito. Comecei a sentir que dava pra fazer isso com músicas também… Você desmonta e remonta.” Sua versão virou um grande sucesso.
“Eles queriam que eu criasse um hino feminino. Só não sabiam que estavam falando com alguém que queimou o sutiã de treinamento na primeira manifestação na estátua da Alice no País das Maravilhas nos anos 60.”
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— Cyndi sobre o impacto de “True Colours” |
Cyndi é grande fã dos Beatles e uma de suas escolhas foi I Want to Hold Your Hand. Ela lembra de quando perdeu a chance de vê-los ao vivo. Aos 11 anos, uma amiga da irmã a levou a um local perto do aeroporto, por onde os Beatles passariam em Nova York.
“Lá vem o carro. Começo a gritar. Estava de olhos fechados e, quando abri, vi só a nuca deles. Que idiota. Perdi tudo!” Décadas depois, compensou a perda.
“Estava no dentista e me virei – Paul McCartney, bem atrás de mim. Não sabia o que dizer. Eu estava no dentista, então falei: ‘Belos dentes.’”
7. Uma de suas maiores músicas é dedicada a um amigo que morreu
True Colours, de 1986, é uma das músicas mais marcantes de Cyndi e virou um “hino de cura”, especialmente para a comunidade LGBTQ+. Ela diz que canta a música por seu amigo Gregory Natal, que morreu de AIDS nos anos 80 (ela também escreveu Boy Blue para ele).
“Cantei True Colours por nós que o sobrevivemos. Ele era um cara muito legal”, diz ela. “Ele nunca se sentiu bem consigo mesmo, porque te fazem sentir péssimo, e é isso que deixa os jovens mais vulneráveis.” Gregory morreu aos 24 anos.
Cyndi conta que, num show, “eu estava cantando True Colours e um cara apareceu com uma bandeira do arco-íris… Ele disse: ‘Desenhei isso inspirado na sua música.’” Era a futura bandeira do orgulho LGBTQ+. “Depois desse momento, soube que Gregory realizou seu desejo.”
8. Ela sente muito orgulho da nova geração de cantoras
Perguntada sobre como as coisas mudaram para as mulheres na música desde os anos 70, Cyndi responde: “Mudam e não mudam. O fato da Taylor Swift ter que se justificar… Sério? Tenho muito orgulho daquela jovem. Que exemplo maravilhoso. Fico feliz vendo todas essas mulheres jovens. Sei que sempre haverá dificuldades, mas é preciso dar um passo atrás. Sempre existirão guardiões dos portões. Só temos que descobrir como contornar… Estamos em cima dos ombros de quem veio antes, e quem vier depois vai estar nos nossos.”
Matéria completa: BBC Radio
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