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Cyndi Lauper fala sobre as datas finais da turnê de despedida, sua entrada no Rock and Roll Hall of Fame e o musical Working Girl

A turnê Girls Just Wanna Have Fun Farewell Tour retorna neste verão com 24 shows finais na América do Norte.

Sophy Holland/The Sunday Times

“Finalmente ser a atração principal e não a madrinha de honra ou a maldita dama de companhia?” diz Cyndi Lauper, rindo durante uma entrevista por Zoom. A lenda do pop/rock nascida no Brooklyn está falando sobre seu primeiro show como atração principal no Madison Square Garden, em Nova York, no outono passado, parte da sua turnê de despedida Girls Just Wanna Have Fun. Esses shows de adeus — uma explosão energética de rock, baladas emocionantes e arte vívida — foram amplamente elogiados por fãs e críticos. Após passagens pela Europa, Austrália e Japão, Lauper traz a turnê de volta aos Estados Unidos (e Canadá) neste verão, com 24 datas finais na América do Norte, começando em 17 de julho em Mansfield, Massachusetts.

Lotar arenas como o MSG foi um dos principais motivos pelos quais Lauper — que será incluída no Rock & Roll Hall of Fame neste outono — quis fazer essa turnê de despedida. Enquanto finalizava a masterização da trilha sonora do documentário retrospectivo de sua carreira, Let the Canary Sing (2023), Lauper lembra que “todo mundo se virou e disse: ‘Por que você não faz uma turnê de despedida?’” A vencedora de Grammy, Emmy e Tony gostou da ideia, mas com uma condição: “Se eu vou sair, quero ser a atração principal desses lugares,” ela lembra de ter dito à sua equipe. “Não quero tocar em teatros – eu já vivo em teatros,” comenta, referindo-se ao fato de ter passado os últimos 15 anos trabalhando no teatro musical, entre o sucesso da Broadway Kinky Boots e uma adaptação musical de longa gestação do filme de 1988 Working Girl, que ainda está desenvolvendo com Theresa Rebeck.

Agora, com a despedida na América do Norte marcada para este verão, Lauper quer ter a chance de se reconectar com os fãs de cidades que ficaram de fora no ano passado. “Não fui a Filadélfia [ano passado]. Vou embora sem ir a Philly?” pergunta retoricamente, referindo-se ao show marcado para 20 de julho na “Cidade do Amor Fraternal”. “Quero me despedir de todos. De verdade. Esse é o fim desse capítulo.”

As últimas datas da turnê trarão algumas mudanças — incluindo alterações no setlist inspiradas por um famoso estilista. Além de ajustes no palco para se adequar a locais ao ar livre, a cantora está adicionando músicas dançantes para agradar seu público LGBTQ fiel. “Vou trocar uma música porque Christian Siriano disse: ‘Os gays querem glamour.’ No Instagram, alguém escreveu: ‘Os gays amam glamour, mas também amam dançar. Você se importaria de colocar uma música dançante do [álbum de 2008] Bring Ya to the Brink?’ Achei hilário,” conta. “Então eu disse ok, tudo bem.”

Apesar da inclusão animada de música dançante (só imagine se ela cantasse “Sex Is in the Heel” de Kinky Boots?), os momentos mais marcantes dos shows costumam vir das baladas emocionantes. “Time After Time” tem sido cantada em dueto com convidados como Sam Smith e Lucinda Williams, enquanto “True Colors” e “Sally’s Pigeons” são encenadas de maneira quase teatral, com forte impacto visual — com destaque para a “fonte de ar” de Daniel Wurtzel.

Lauper diz que é impossível escolher um momento preferido dos shows — e ela diz isso literalmente. “Quando subo no palco, já não estou mais ali, porque estou dentro daquilo,” explica. “Eu costumava trabalhar em Belmont levando cavalos. Me sinto como um daqueles cavalos de corrida — você está lá, mas não consegue pensar. Você tem que ter um pé na realidade e outro em algum outro lugar, e é esse lugar onde as coisas fluem por você.” Ela conta que teve uma conversa com Prince sobre isso, que comparou a sensação a desligar o “terceiro olho”. “Ele dizia: ‘Parte de você, você sai da sua mente [no palco]. Você não está lá. Não pode estar, porque se estiver, então ativa o terceiro olho. E aí a porta mágica, seja lá o que for que você está tentando abrir, não vai se abrir.’”

Acidentes, no entanto, podem atrapalhar essa conexão mágica. Lauper conta sobre um incidente durante “Sally’s Pigeons”, em que um lençol branco flutuando com ventiladores cruzados caiu sobre alguém na plateia. “É tão lindo, né? Maravilhoso. Uma vez eu vi aquele lençol subir — tive que desviar o olhar porque ia começar a rir — caiu direto em cima de alguém. Vi todo mundo correndo,” ela ri. “É ao vivo, né? Você nunca sabe o que vai acontecer.”

Mesmo assim, ela normalmente consegue se manter nesse estado de fluxo — embora tenha sentido um nervosismo enorme antes de seu primeiro show como atração principal no MSG. “Antes de subir ao palco, pensei: ‘Sua idiota. Chamou todos os seus amigos e se você cair de cara no chão, todos eles vão ver.’ Depois me disse: ‘Não, seja positiva. Não pense assim.’ Aí pensei: ‘É só rock n’ roll, mas eu gosto. Seja o que for.’”

Para registro: Lauper não caiu — nem literalmente, nem metaforicamente. Estive lá, e foi um dos melhores shows que vi em anos, tanto na performance quanto no conceito. Muito da estética da turnê vem do amor de Lauper pela arte, museus e moda vibrante; a turnê conta com colaborações originais com Wurtzel, Siriano, Geoffrey Mac, Brian Burke e Yayoi Kusama. “Quando você está se movendo com todas aquelas cores, é como uma pintura,” diz Lauper com seu glorioso e inconfundível sotaque do Brooklyn — não exatamente o que se espera em um discurso artístico sofisticado. “[Kusama] usava sua arte, e nos anos 80, era meio isso que eu fazia,” diz ela sobre a artista japonesa, cuja paleta de bolinhas se tornou famosa mundialmente na mesma época em que Lauper explodiu na MTV e nas paradas da Billboard. “Queria me dar um chute por não conhecê-la nos anos 80 — não fazia ideia sobre Kusama. Mas eu estava na roda do hamster, pedalando tão rápido que não ia a museus (na época), o que foi uma pena para mim.”

Hoje, aos 71 anos, a ícone consegue reservar tempo para aproveitar arte, mas parece que, diferente de muitos músicos que não conseguem deixar a estrada, é a roda do hamster que continua seguindo Lauper.

Antes da próxima etapa da turnê começar em julho, Lauper ainda está trabalhando nas músicas para Working Girl. “Estou com quatro músicas pendentes que preciso fazer antes da turnê, mas acho que consigo,” suspira. “Junho está bem cheio. Meu Deus, tudo aconteceu de uma vez,” ela diz, observando que também precisa se preparar para sua indução. “O Rock & Roll Hall of Fame é no dia 8 (de novembro), e Working Girl estreia no dia 9. Uau. Então me mata agora, né?”

Apesar da agenda lotada, Lauper parece honrada em se juntar aos muitos ídolos que a inspiraram no Hall da Fama. “É uma comunidade de pessoas, roqueiros que mudaram o mundo,” ela reflete. “É o seguinte: ainda acredito que o rock n’ roll pode salvar o mundo. Só quero que as pessoas se lembrem de que fizemos a diferença. Podemos continuar fazendo a diferença se nos unirmos. Precisamos nos reunir como comunidade para levar luz, unir pessoas e provocar mudanças, fazer o bem.”

Para Lauper, compartilhar sua história na Girls Just Wanna Have Fun Farewell Tour faz parte disso. “Quis que as pessoas soubessem quem diabos esteve cantando para elas todo esse tempo, para que criassem uma conexão. E talvez fossem inspiradas a olhar para sua própria história, para se entenderem,” ela afirma. “Cada um tem uma perspectiva diferente. Quando você conta sua história, aproxima os seres humanos. Cria comunidades. Isso é muito importante. Nos tempos mais sombrios, lembre-se: você escreve os capítulos, você traz a luz.”

Texto: Billboard

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