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Crítica e setlist: As verdadeiras cores de Cyndi Lauper brilharam intensamente em Mansfield


Confira a crítica realizada pelo site Boston.com sobre o primeiro show da cantora no Xfinity Center:

A viagem ao passado começou cedo, antes mesmo de Cyndi Lauper subir ao palco. Acima do palco do Xfinity Center, passava um vídeo com uma montagem de imagens destacando Lauper como cantora, ícone da MTV, figura curiosa do mundo da luta livre, vencedora do Tony Awards e ativista na Casa Branca.

Se era mesmo uma despedida — o show de quinta marcando o início da etapa final de sua turnê de despedida —, a cantora deixou claro desde o início o peso desse momento. “Queria terminar em grande estilo”, disse ela mais tarde, depois de nos lembrar que sempre teve o “grande” embutido em sua essência.

Lauper começou com tudo — literalmente — com uma explosão de confetes no ar assim que a banda deu início à batida debochada e eletrônica de “She Bop”. Sua voz manteve praticamente toda a potência mesmo após todos esses anos (décadas, na verdade). “I’m Gonna Be Strong”, um hino de diva new wave da época de sua banda pré-fama, Blue Angel, mostrou um vocal impressionante, crescente, que culminou em notas poderosas mantidas com impacto. Mesmo em uma música suave e fluida como “When You Were Mine”, de Prince, ela foi penetrante — ao mesmo tempo calorosa, birrenta e angustiada.


Esse é, de certa forma, o cerne de Lauper: uma voz quase de desenho animado, mas cheia de empatia. “True Colors” era um amontoado de contradições, um hino pequeno e íntimo que conseguia sustentar um coro coletivo. A cintilante “Who Let In The Rain” lembrava os Drifters cantando “I’m On Fire” de Bruce Springsteen. E ela colocou tanta emoção em “I Drove All Night” que ficou claro por que Roy Orbison quis essa música — uma névoa de faróis e saudade.

Mesmo nas músicas que não exigiam tanto sentimento, como sua versão N’awlins-com-sotaque-nova-iorquino de “Iko Iko”, a personalidade marcante e carismática de Lauper preenchia qualquer lacuna que, em outra pessoa, poderia soar desconexa.

A maior evidência de que esta era uma turnê de despedida estava no quanto Lauper falou. Ela não apenas relembrou sua carreira e contou histórias por trás dos hits — embora isso também estivesse lá. Em vez disso, ela foi filosófica sobre a vida ser feita de capítulos e refletiu sobre o que o fim deste capítulo pode significar. Ela também puxou fios do passado — como a história imigrante de sua família e como, ainda criança, ouvir as mulheres conversando enquanto penduravam roupas no varal ajudou a formar sua visão de mundo.


Reflexões tão extensas — assim como duas trocas de figurino feitas à vista do público (uma diretamente no palco, que resultou em duas músicas cantadas com um robe preto e touca de peruca, e outra mostrada na tela, nos bastidores) — poderiam parecer divagações e quebrar o ritmo do show com qualquer outro artista. (Ela também se distraiu com uma libélula que cruzou o holofote, exclamando: “Ah, caramba! Que especial. Que bonito. Que mágico.”) Mas Lauper tem uma presença tão cativante e é uma contadora de histórias tão envolvente que sua espontaneidade virou parte do seu charme.


“Girls Just Want To Have Fun” foi o exemplo perfeito: cheia de ruídos e agitação, com uma mensagem aparentemente boba, que ela transformou em uma declaração de propósito forte e inegável, apenas com personalidade e força de vontade.

Houve apenas um momento em toda a noite em que sua voz pareceu falhar. Algo estava errado desde o começo de “Time After Time” e ela nunca se recuperou, ficando ligeiramente desafinada o tempo todo. (A consistência do tom incorreto e o fato de ter sido o único deslize indicam que provavelmente foi um problema técnico.) Mas o público conhecia cada palavra — de cor e de coração — e cantou junto com ela, apoiando-a o tempo todo. Ela caiu, e eles a seguraram. Estavam esperando por isso.

Jake Wesley Rogers abriu o show com glam-pop brilhante, cheio de fervor e autenticidade, sem medo de ser ele mesmo. O tema recorrente em suas músicas era o amor — especialmente a visão de um mundo onde as pessoas são amadas —, e tudo vibrava de alegria.

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